segunda-feira, 27 de junho de 2011

A missa

Um número cada vez menor de pessoas continua a ir à missa e, verdade seja dita, se não fosse uma imposição, um número ainda menor insistiria em continuar a frequentá-la. Mas o que há de errado com a missa? A crítica mais comum é que ela é enfadonha, mas eu afirmo que este não é nem de longe o principal problema com a missa. O problema é que ela é inútil. Mas será que ela não deveria ser mais empolgante, mais atraente? Será que os cantos não estão desanimados ou enfadonhos demais? Acontece que, se for para se divertir, seria muito melhor ir a uma festa ou ao cinema, então este não pode ser o propósito. Talvez deveriam substituírem-se as tantas repetições de conteúdo por algo mais original, tirando o enfoque no ritualismo, no martelamento de ideias e na manutenção da dependência.

A maior crítica que eu tenha ouvido falar a respeito da missa é o fato dela ser entediante, marcada pelo texto decorado e repetido várias e várias vezes, com pequenas variações ao longo do ano, até que se inicie um novo e tudo se repita. É feita a leitura de um trecho aleatório da bíblia, dando a sensação que a história contada é desconexa do restante dela e perde assim todo o sentido, seguido ainda do monólogo desestimulado do pároco, que dificilmente apresenta grande sabedoria, conhecimentos históricos ou filosóficos a respeito da leitura. Com raras exceções, nem sequer se fala a respeito da leitura, a não ser, talvez, por uma vaga relação. Engraçado é pensar que esta vaga relação é implicitamente capaz de tornar um discurso em palavra sagrada, mais valorizada que o texto original.

Vamos supor, por simplicidade, que Deus exista e que Jesus, tal qual escrito nos evangelhos, era Deus. Quando se pergunta o motivo da missa, a resposta mais ouvida é que trata-se de apenas uma hora por semana que você dedica a Deus para mostrar-lhe o quanto você é grato pela sua vida, saúde, família, trabalho... Neste caso, não seria muito melhor, por exemplo, fazer algum trabalho voluntário, ajudar numa creche ou asilo? O seu agradecimento não seria muito mais evidente desta forma? Não só você estaria demonstrando que você está agradecido pela sua vida, saúde e disposição para trabalhar como estaria usando-as para ajudar outras pessoas, conforme o exemplo que ele mesmo deu quando veio ao mundo, não é mesmo?

Realmente, uma hora por semana é pouco, mas qual o propósito desta hora perdida? Por que é tão essencial que as pessoas sofram desconforto e culpa por não estarem prestando atenção no que é dito ou por dormir durante o ritual? O que o fiel ganha com isso? Ao deparar-se com esta pergunta óbvia, o que mais se houve é que ela é motivada em ingratidão: você vai à missa para agradecer a Deus, não para si mesmo. Bem, neste caso sabe-se e admite-se que os fiéis não ganham nada indo à missa, nem conhecimento, nem felicidade, é Deus quem ganha.

Espere um pouco, eu ouvi direito? Como assim? O que Deus ganharia com isso? Qual o lucro obtido por obrigar um grupo de pessoas a reunirem-se na “casa de Deus” (nessa hora, é claro, Deus não é onipresente) para ficarem repetindo versos e ritos ao léu? Deus é onipotente, onisciente, magnânimo, e nós, pessoas insignificantes, tentando agradá-lo como se ele precisasse disso! Antes ganhássemos algo com isso, exceto, talvez, a doentia sensação de que Deus está do nosso lado e vai nos ajudar na nossa vida simplesmente porque nós decidimos beijar-lhe os pés. Não porque fizemos algo de bom e ajudamos ao próximo, não porque vestimos um pobre coitado passando frio nem porque demos um copo d'água gratuito e voluntário a uma criança para fazê-la feliz, mas simplesmente porque dissemos a Deus que o amamos (de um amor interesseiro), que ele é o senhor do universo (o que já é sabido por ele, por que a gente precisaria lembrá-lo disso?) e que nós somos capazes de “dedicar” uma hora inteirinha a ele (e eu, se fosse Deus, diria “e eu com isso?”).

Bem, se a missa não traz nada aos fiéis ou a Deus, quem lucra com ela? Só sobrou um “indivíduo” (por falta de um termo mais preciso) nesta história: a Igreja. Primeiro, o óbvio: o dinheiro, pois quem não vai à missa também provavelmente não paga o dízimo. Segundo, fermenta-se a dependência. Esse é o motivo da repetição hipnótica de textos misturados com a música, isso ajuda as pessoas a absorverem a doutrina num ambiente de desprezo à razão e ao questionamento (que é convenientemente categorizada como “falta de fé”). A própria culpa é benéfica para a Igreja, tanto pela falta de atenção quanto por não poder comungar por causa dos “pecados mortais”, ou ainda por ter vergonha de admitir estar em estado de pecado mortal e comungar mesmo assim. A Igreja se pronuncia como se estas atitudes fossem maléficas, mas o resultado disso é a manutenção da dependência, o que é bom para a Igreja.

A Igreja é uma empresa: a única coisa que importa para ela é vender o seu produto. Para isso, quanto mais as pessoas acreditarem que elas precisam adquirir este produto, melhor é o resultado, maior a quantidade de vendas. E que modo melhor de vender um produto senão convencendo que as pessoas são obrigadas a comprá-lo ou receberão um castigo? E que tal forçarem as pessoas a ver uma hora de propaganda comercial toda semana, com o bônus de uma super-propaganda extra em ocasiões festivas? Convença-as de que assistir a propaganda é benéfico para elas, ou que é maléfico que elas não o façam, depois mostre-as os poderes milagrosos que elas adquirem com o produto. O seu produto nem sequer precisa ser bom.

A propaganda negativa é uma estratégia eficiente e conhecida. Convença as pessoas que elas são feias e elas comprarão os seus produtos de beleza, convença-as que elas são tristes e que o seu produto as tornará felizes, e elas o comprarão. Ou então convença-as que elas são pecadoras, desmerecedoras e que Deus está infeliz com elas, e então elas irão à sua igreja. Você não precisa tornar estas pessoas em pessoas mais bonitas, mais felizes ou mais merecedoras do plano divino, basta que elas tenham a ilusão disso.

Claramente o que foi apresentado não se resume ao catolicismo e nem ao cristianismo. Entenda-se: a minha crítica não é com as pessoas que costumam frequentar a igreja ou sentem-se confortáveis ao participar dela, a minha crítica é com a insistência em acreditar que as igrejas estão sendo abandonadas pelos fiéis por culpa destes e não da celebração litúrgica em si.

Agora, se você quer que a sua igreja realmente torne as pessoas melhores, mais preparadas para a vida e para o mundo, torne a sua missa num tempo de reflexão e discussão, não apenas a respeito do seu livro, mas de várias fontes. Apresente formas diferentes de pensar, coloque questões à mesa, dê voz às pessoas, ensine a história por trás das estórias, mostre a bondade dos santos da sua e das outras igrejas, e não os milagres que eles supostamente fazem ao que pedem. Aceite a oposição, não, melhor ainda, fique grato pela mera presença da oposição ao invés de ficar escandalizado ou desconfortável pela maneira com que ela se veste ou com a sua forma de pensar. Desta forma, você não precisará nem sequer convencer as pessoas que elas precisam ir à sua igreja, porque as pessoas interessadas em aprender e discutir iriam por elas mesmas, os encontros semanais seriam frutíferos em vez de massantes. Neste caso, até eu poderia me interessar. Mas, enquanto a missa for um lugar de opressão à liberdade de pensamento, ao raciocínio lógico e ao conhecimento...

terça-feira, 14 de junho de 2011

Credulidade

Se, por um lado, religiosos não costumam aceitar pontos de vista diferentes do que a sua religião prega, por outro, o ponto de vista da própria religião não é questionado. Quando um líder religioso abre a boca, não há discussão, discordância, argumentação, ainda que fatos controversos e até absurdos sejam apresentados. Se alguém pensa diferente, esse pensamento é engolido. Às vezes este é colocado em forma de dúvida, mas nem sempre a dúvida é esclarecida, pois evita-se confronto e questionamento. Se alguém levanta a voz, o clima é de desprezo e repreensão, não pelo conteúdo do que é dito, mas pela atitude. Não que isso seja incomum na sociedade, mesmo em outros meios, como, por exemplo, nas escolas ou em família: é uma forma de agir enraizada na cultura. Entretanto, não há repreensão à atitude de se criticar o que é ensinado na escola em outros ambientes, mas, estranhamente, as religiões foram colocadas socialmente num patamar acima de críticas.

Outra peculiaridade da religião é que as afirmações são feitas de forma desonesta e covarde. Por exemplo, alguém poderia afirmar que uma árvore é mágica e, por causa disso, ela é capaz de andar, falar e ouvir e que, se você for até ela e pedir que ela compre uma bicicleta para você, ela o faz; uma árvore ambulante que faz favores. Mas esse tipo de afirmação não é feito pelos religiosos, pois, se fosse, quem acreditaria? E, se acreditassem, na hora de fazer um pedido, veriam que é mentira. Entretanto, se alguém afirma que esta árvora, durante a lua cheia, realiza pedidos; ela não sairia do lugar, continuaria sendo uma árvore imóvel, mas o seu pedido seria magicamente realizado. Isso sim é acreditável. Como você poderia verificar que essa afirmação é falsa? É possível, mas é bem difícil: se o seu desejo não foi realizado, inventa-se uma desculpa do tipo “você não teve fé o bastante” ou “o seu desejo ainda será realizado”. Entretanto, se um desejo acontece, então a mágica da árvore fica demonstrada aos olhos dos que são nela crentes, embora a árvore pode simplesmente não ter tido nada a ver com isso.

Considere, por exemplo, a crença de se jogar uma moeda numa fonte e fazer um pedido. As pessoas não se importam se isso fará o desejo realizar-se ou não, tudo o que importa para elas é o direito de acreditar que sim. Ou seja, elas preferem ficarem enganadas a serem esclarecidas, porque isso ainda lhes dá uma falsa esperança, uma ilusão. Essa é a origem da credulidade: o desejo de acreditar. E esse também é o motivo pelo qual se critica a crítica, não o seu conteúdo, mas a mera atitude de criticar. Por exemplo, se um grupo de pessoas está jogando moedas numa fonte e aparece um cético entre eles comentando que fazer pedidos para uma fonte não funciona, este é taxado de chato. Por qual motivo? Porque ele acabou com a crença, não porque ele está errado.

O desejo de acreditar, entretanto, não se transforma em uma crença real. A maior prova disso é que evidências não são capazes de destruí-lo. Não importa quantas evidências aparecerem de que uma fonte não realiza desejos, moedas continuarão a serem jogadas na fonte.

Bem, a esta altura, a objeção do leitor, obviamente, é que acreditar numa fonte e perder umas moedas não faz mal, faz? De fato, não faz. Porém, quando a crença em questão faz com que grupos de pessoas virem-se uns contra os outros, façam pressão sobre políticos e cidadãos comuns para que eles participem da mesma crença e realizem os desejos por ela motivados, tornem-se um obstáculo à ciência e à mudança e quando esta credulidade faz com que as pessoas tenham a ilusão de que estão ajudando quando não estão, ou pior, quando isso faz com que elas atrapalhem aqueles que realmente estão tentando ajudar... Bem, neste caso, não se pode mais caracterizar essa credulidade como sem consequências.

O maior instrumento na manutenção da credulidade é a ilusão que a religião dá aos fiéis de que crer sem questionar é uma virtude denominada fé que está acima de qualidades realmente benéficas como bondade. Infelizmente, isto acaba com a curiosidade e o ceticismo, que são fundamentais no aprendizado, na exploração e no desenvolvimento de qualquer área do conhecimento humano. A afirmação que a fé não é somente acreditar mas que acreditar sem questionar faz parte da fé não melhora em nada o problema, apenas torna ainda mais convincente a falsa noção que credulidade é uma virtude.

A crença em oração ou outro tipo miraculoso de cura é capaz de evitar que o doente procure ajuda real e de criar uma expectativa que se transforma em frustração. Um exemplo é dado no documentário Miracles for Sale do ilusionista Derren Brown.

Outro exemplo: muitos monastérios e conventos estão cheios de pessoas que se dedicam o dia todo, a vida toda em rezar. Agora, qual o benefício real que é trazido por isso? Por que, ao invés de rezar o tempo inteiro, essas pessoas não dedicam a vida a ajudar quem precisa? Alguém poderia dizer que o benefício é mágico, invisível, e que a humanidade só não se destruiu ainda porque tais pessoas existem: aí está um exemplo clássico de afirmação infalsificável que é feita com o único propósito de obter o direito de continuar acreditando, satisfazendo o desejo de acreditar, mas sem que haja uma crença real na afirmação. Afinal de contas, que tipo de divindade é essa que requer que as pessoas fiquem falando para ele: salve o mundo, salve o mundo, para que ele se incomode e salve o mundo? Este deus por acaso não sabe que o mundo precisa ser salvo, ou será que ele está de birra com o homem de forma que é preciso insistir? E que tipo de oração é essa que alguém faz negando-se a agir de forma concreta? Não seria o próprio trabalho uma forma muito melhor de demonstrar a Deus ou a quem quer que seja o quão dedicado você está a resolver um problema?

Minha intenção não é ofender ninguém, criticar não é o mesmo que ofender. O que me incomoda é a boa vontade que é direcionada para o lado errado simplesmente para satisfazer a neurose de alguns em acreditar que o mundo precisa de algo que, na verdade, não precisa. Sem falar em como estas pessoas estão sendo iludidas de que estão fazendo algo de bom para o mundo. Não tenho intenção ser uma barreira à liberdade de escolha de cada um, pelo contrário, quero que todos tenham conhecimento a respeito das escolhas que fazem para que a escolha seja realmente livre. Todos têm o direito de fazer críticas, sejam críticas certas ou erradas, desde que respeitosas e desde que saibam colocar limites, pois criticas são não apenas úteis mas também necessárias. Quem não recebe críticas faz o que quer, não o que precisa. E se nós não batermos o pé e formos contra os conceitos mais básicos e fundamentais da sociedade a fim de que eles sejam repensados, então quem fará isto por nós?


Tem um pequeno detalhe a respeito da realidade que os crentes não dão suficiente importância: o desejo de que algo seja real não o torna real, não há nenhum benefício neste desejo. Não é acreditar que a fonte realize desejos que vai fazer com que a fonte, de fato, realize desejos. Por mais que você queira que uma pedra se mova, ela não se moverá até que você decida pegá-la e tirá-la do seu lugar. Da mesma forma, deixar de acreditar em um fato não o torna irreal, então não há mal algum no ceticismo, ao contrário do que diz a propaganda. Se Deus existe, desacreditar na sua existência não o fará desaparecer. Por que ele se ofenderia com a descrença? Ele não deveria estar acima dessas vaidades humanas? Jesus que me perdoe, mas esta fé, mero eufemismo para credulidade, não é capaz de mover montanha alguma.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Habilidades no debate

Eu tenho que admitir, o proprietário do vídeo tem uma incrível habilidade para debater.


Eu estava comentando este vídeo.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Ateísmo, na prática

É bem fácil perceber que ateísmo é um dos maiores alvos de críticas do mundo atual, sendo intitulado como vilão, criminoso, imoral, niilista e às vezes até como o grande culpado pelos maiores problemas da sociedade moderna. Seria esta má fama baseada na realidade ou a origem é simplesmente a cultura?

A primeira falsa noção de ateísmo é a sua relação com a criminalidade. Um estudo mostra que, nos Estados Unidos, cerca de 0,4% da população se declara ateia, enquanto que apenas cerca de 0,16% dos encarcerados são declaradamente ateus. Isso significa que a proporção de ateus (declarados) dentro da prisão é menor que a proporção de ateus na população em geral, mostrando nenhuma relação ou até uma relação inversa entre criminalidade e ateísmo.
Outro estudo mais otimista afirma que a proporção de ateus encarcerados em prisões federais dos EUA era de apenas 0,08% em 2010, enquanto que 1,6% da população era ateia em 2008. Este mesmo estudo mostra que os três estados mais religiosos dos EUA têm taxas criminalidade bem acima da média deste país, ao contrário dos três estados menos religiosos, que têm taxas de criminalidade bem abaixo da média.

Alerto para o fato que muitos sites ateus apontam a proporção de ateus nos EUA como sendo 8% ou 16%, mas esta é apenas a proporção de pessoas que simplesmente rejeitam a crença em qualquer divindade ou força sobrenatural (o que, de acordo com a Wikipédia, se caracteriza como ateísmo, ou, mais especificamente, ateísmo negativo). De qualquer forma, há um pouco de divergência com respeito a estas proporções, mas não encontrei nenhuma fonte apontando uma proporção de ateus encarcerados maior do que a proporção de ateus em geral.

O sociólogo Phil Zuckerman fez análises (documento pdf) sobre a relação entre ateísmo e moral e concluiu que “ateísmo e secularidade têm várias correlações positivas, como níveis mais altos de educação e habilidade verbal, níveis menores de preconceito, etnocentrismo, racismo e homofobia, maior suporte à igualdade para mulheres, criação de crianças que promove o pensamento independente e ausência de punição corporal, etc. No nível de sociedade, com a importante exceção de suicídio, estados e nações com maior proporção de pessoas seculares se saem notoriamente melhores que aqueles com maior proporção de religiosos” (veja também na Wikipedia). Ainda nesta referência, afirma-se também que os níveis de assassinato em países mais religiosos são maiores que nos países seculares e a mesma correlação pode ser encontrada nos estados norte-americanos. O estudo deste sociólogo é bem completo e mostra ainda outras correlações que poderiam ser mencionadas.

Um exemplo que deve ser notado é a Noruega. Neste país, “apenas 20% dos noruegueses dizem que a religião ocupa um espaço importante em sua vida (de acordo com uma pesquisa recente da Gallup), fazendo da Noruega um dos países mais seculares do mundo” (Fonte: Wikipédia). Por outro lado, este país ficou em primeiro lugar no Índice Global da Paz, além de obter altas pontuações em outros índices (Fontes: Vexen.co.uk, Wikipédia).


Existem muitos ateus que lutam, de uma maneira ou de outra, pelo bem da humanidade, e não apenas com a intenção de “desconverter” ou ridicularizar pessoas religiosas. Uma grande concentração destes ateus encontram-se no Youtube.

No canal heathyaddict, encontram-se vários vídeos onde Ashley, responsável pelo canal, explica porque ela, apesar de ateia, costuma frequentar igrejas. Ela afirma que a intenção é se relacionar, conversar, responder perguntas e principalmente para tirar a noção errônea que os cristãos têm de ateus. Em um vídeo ela participa de um evento numa igreja onde ela vai para responder perguntas juntamente com um cristão.

Os canais lacigreen e gogreen18 são da mesma autora, que defende uma atitude positiva com respeito ao sexo (que ela denomina Sex Positive), ou seja, uma atitude responsável, mas sem culpa. No primeiro canal, podem ser encontradas críticas a propagandas de produtos de beleza cujo objetivo é inferiorizar mulheres que não atendem aos padrões de beleza, valorização da diversidade humana, além de tentativas de esclarecimentos em vários assuntos mais ou menos relacionados ao sexo ou à paixão (gravidez, homossexualismo,...). No segundo, encontram-se vídeos falando sobre as suas opiniões com respeito a religião, criticando, em especial, o machismo da religião mórmon (da qual faz parte, por exemplo, a igreja dos santos dos últimos dias). Noto, em especial, o vídeo Spiritual Atheism, onde ela afirma encarar a vida com uma certa espiritualidade, embora não no sentido sobrenatural do termo.

TheThinkingAtheist é um canal com vídeos de qualidade notável que apresentam uma visão crítica, incentivando a reflexão e o questionamento, mostrando as atrocidades que se encontram na bíblia. O autor também mantém um podcast onde ele recebe ligações para discutir a respeito de vários assuntos.

Os vídeos hipnotizantes da série The Sagan Series, que encontram-se no canal damewse, fazem propaganda dos programas espaciais da NASA. Nestes vídeos, o criador demonstra uma profunda admiração pelo universo e pelas conquistas do homem, e critica o governo dos EUA por gastar uma quantidade de dinheiro absurdamente maior na guerra do Iraque do que na NASA.

Falando em vídeos hipnotizantes, noto, em especial, Science Saved My Soul, de philhellenes], que defende a posição que as fábulas mágicas criadas pelas religiões são ínfimas comparadas com a beleza e a grandeza do universo.

Este vídeo do TheThinkingAtheist em particular mostra uma mulher que ficou indignada porque o programa de alcoólicos anônimos que ela frequentou forçou-a a acreditar em Deus (contrariando a liberdade religiosa), afirmando que ela não seria capaz de ficar sóbria por conta própria. Então ela mentiu, está sóbria por 35 anos e criou uma organização de alcoólicos anônimos desprovida de religião.

No show Miracles for Sale, o ilusionista Derren Brown ele mostra truques que podem ser feitos para realizar milagres e atenta para pastores enganadores que usam estes artifícios para convencer pessoas a fazerem doações em dinheiro; em Séance, ele mostra como invocar espíritos e, em Messiah, ele imita vários "profetas" famosos, de várias religiões.

O (falecido) humorista George Carlin fez discursos contra a guerra e contra divisões sociais, além de também fazer várias sátiras às ideias religiosas.

Nesta lista, não pode faltar a atriz Angelina Jolie, que é conhecida pelo seu trabalho humanitário na África e que, embora não seja uma ateia militante, já professou que não se importa se Deus existe ou não, o que a classifica como ateísta negativa.

Enfim, de qualquer forma, não e correto classificar ateus com estes termos que são comumente utilizados pela maioria religiosa. Não tenho intenção alguma de vitimizar o ateísmo, apenas desmistificar as associações que são feitas entre ateísmo e imoralidade, principalmente porque preconceito, assim como violência e muitos outros problemas da sociedade atual, não tem sua fonte na “maldade inerente dos seres humanos”, mas no desconhecimento.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Vídeos: Intolerância

Alguns vídeos para demonstrar o que foi dito em Intolerância.

Contra ateus:
 

Contra minorias religiosas:


Ainda falta encontrar evidências das disputas entre diversos denominações de cristianismo e até entre diferentes grupos cristãos que pertencem à mesma religião. Eu poderia apresentar é a minha experiência pessoal com esse tipo de problema, mas seria pessoal demais.

Quanto a intolerância de ateus contra religiosos, existem casos isolados de preconceito, mas não tenho conhecimento de nenhuma ação em grupo e nada que tenha passado de apenas palavras grosseiras (o que já é bem ruim, diga-se de passagem).

Que fique claro que eu não me incomodo com o que as pessoas acreditam ou qual o propósito que elas escolhem para a vida delas. A minha aversão é com o que elas fazem usando a religião como desculpa, ou pior, em nome dela ou em nome de Deus. Como o próprio Jesus disse: reze em seu quarto!

domingo, 5 de junho de 2011

Dependência

Na última postagem eu falei que muitas pessoas são intolerantes com membros de outras crenças, mas ainda resta a pergunta: por quê? Este fenômeno é muito anormal e até doentio, é possível vê-lo em mesmo em pessoas inteligentes, de caráter, mas não quando outro assunto que não envolva religião é posto à mesa. Cada crença faz aos fiéis uma propaganda negativa de tudo o que se opõe a ela, criando neles o medo de sequer conhecer, investigar a afirmação ou de aceitar evidências contrárias a esta propaganda, como se o mundo todo fosse uma conspiração maligna tentando convertê-los para o mal. Agora, Isso não explica exatamente porque os fiéis aceitam esta propaganda.

Afinal de contas, por que os fiéis engolem isto sem contestar? E depois de engolir, por que eles fecham os olhos e os ouvidos para tudo o que aponta que a visão de mundo deles está errada? Isso não acontece somente quando se trata de preconceito religioso, mas também em relação às evidências científicas, históricas, e assim por diante. Até mesmo as ideias mais óbvias e claras são rejeitadas como se fosse essencial que eles não percam esta visão de mundo. Em outras palavras, os crentes sentem-se como se o propósito da vida deles dependesse da crença. É bem fácil ver que existe esta dependência pois a própria fé afirma que o fiel não pode abandoná-la. Esta é a afirmação mais bem enterrada dentro da cabeça do fiel, é quase impossível desenterrá-la, uma vez que qualquer tentativa de desenterrá-la é vista com maus olhos, como parte da conspiração mundial contra a fé, ideia frequentemente associada com a noção de que o mentor desta conspiração é o próprio demônio.

Isso não é tudo. Quando um crente depara-se com um descrente e este, de alguma forma, se torne uma ameaça à crença daquele, a primeira reação é a negação. Esta, ao falhar, dá lugar à raiva, que leva o crente a demonizar o descrente. É quase como cometer uma falta num jogo de futebol: se o seu conhecimento sobre o assunto é falho, se a lógica não parece estar ao seu lado, a solução é a agressão. Por exemplo, ainda que Jesus (que deveria, na visão dos cristãos, ser o juiz do cristianismo) disse explicitamente para não julgar, é frequente que, nestas situações de ameaça, os cristãos joguem tudo para o ar e digam, de maneira explícita ou implícita, a frase tão bem conhecida entre não-cristãos: você vai para o inferno! Esta frase, infelizmente, até virou clichê.

É engraçado ver muitas vezes ver pessoas defendendo suas filosofias de vida quando estas estão ameaçadas. Até a fisionomia muda, é visível o desespero, o medo de que a outra pessoa coloque na discussão algo que elas não sejam capazes de responder. Quando alguém entra neste estado de respostas automáticas, a lógica e o raciocínio são deixados de lado. O sorriso forçado, o sangue por todo o rosto, o desconforto, a voz. Não é de se estranhar que as pessoas evitam falar de religião fora da igreja, afinal, qualquer tentativa nesse sentido é seguida dessa experiência desconfortável. Isso é desviar-se do problema. Mas qual é o mal de não poder responder, de estar errado? Por que esse compromisso de estar certo? A resposta novamente é a dependência.

Imagine uma discussão entre marido e mulher sobre qual cor pintar uma casa. Ambos concordam que a casa deve ser pintada com a cor mais bonita, mas um prefere o azul e a outra, o amarelo. Como é possível defender que o azul é uma cor mais bela que o amarelo, ou vice-versa? Não é possível, é uma questão de gosto, mas às vezes a discussão procede como se bonito ou feio fosse uma característica absoluta, invariante de pessoa para pessoa, e a discussão se torna puramente teórica, pois é impossível argumentar que uma cor é inerentemente mais bela que a outra. Se o exemplo não ficou claro o bastante, suponha que ambos, na verdade, concordam que a casa deve ser pintada na cor que Deus escolheu. Mais uma vez, seria impossível descobrir qual das duas cores seria a preferida. O marido diria que orou e ouviu a voz de Deus, e este lhe pediu que pintasse a casa de azul. Mas a mulher responderia que também orou, mas que Deus lhe disse para pintar a casa de amarelo.

É muito fácil entender porque uma argumentação deste tipo não acaba bem. As afirmações costumam ser propositadamente impossíveis de se verificar, poucos têm coragem para fazer afirmações imediatamente verificáveis. Os que as fazem no fim decepcionam-se e aprendem a não fazê-las novamente, pois elas falham, então é mais astuto fazer afirmações infalsificáveis. Esta desonestidade assemelha-se a cavar uma falta, pois trata-se de criar uma situação falsa que mostre que você está certo. Se o outro não cair nesta falta, o próximo passo é ofender pessoalmente aquele que insiste que você está errado. Nem o marido e nem a mulher teriam coragem para dizer: desça três quadras por esta rua, vire à esquerda, depois à direita e você verá um carro de tal cor parado ao lado de um telefone público, este é o sinal de que Deus quer que nós pintemos a casa dessa cor. Afirmar isso seria suicídio na discussão, então o caminho escolhido acaba sendo ofender o outro por ter mal gosto ou não saber nada a respeito de cores ou de como pintar uma casa.

Na visão de uma pessoa profundamente religiosa, um apóstata ou alguém que “nega Deus em seu coração” (uma visão completamente errônea do que significa ser ateu) não pode ser, de maneira alguma, uma boa pessoa. Veja, por exemplo, como o Datena criticou os ateus em seu programa de televisão, chamando-os de bandidos, criminosos (veja uma resposta). Assim, a primeira ideia que um “bom” cristão tem ao conversar com uma pessoa deste tipo é imaginar que ela é secretamente maligna, ou então que ela nunca teve a oportunidade de conhecer a “religião correta”. Entretanto, ao lidar com ateus reais - e não os ateus teóricos, aquelas pinturas diabolizadas ou dignas de pena cujos autores são os líderes religiosos - esta visão começa a cair por terra, a ser falseada, o que faz com que apareçam a negação seguida da raiva. O propósito desta raiva é encobrir a verdade, negando, a si mesmo, a própria existência daquele ateu real.

Não é à toa que, por exemplo, o espiritismo - por ser uma religião mais moderna - “escolheu” não pintar os não-espíritas como malignos. Isso, para mim, é bem curioso. Aliás, está aí outra coisa que é injustamente vestida como estupidez: a curiosidade. Não foi ela que matou o pobre do gato, foi a falta de cautela.

Isso tudo mostra que os crentes não só dependem da religião como também se sentem ameaçados pela verdade, ou seja, pelas experiências com o mundo real. Mas o mundo não perdoa, a verdade não se curva. O carro parado ao lado do telefone não vai mudar de cor porque isto lhe é conveniente, uma pedra não se move apenas a partir da crença de que ela vai se mover e o ateu não vai, do nada, mostrar os chifres inexistentes que estão escondidos debaixo do cabelo. Entretanto, por mais que alguém queira acreditar que a verdade não seja verdade, ela continua sendo. O desejo de que não exista evidências contrárias a uma falsa visão de mundo não faz com que elas desapareçam. É desapontador ver como as pessoas, ao invés de dar atenção a estas evidências, tentam apagá-las ou evitar que elas sejam levadas a público e fingem que elas não existem. Quem está sendo enganado com isso? Se a mera existência de um apóstata que não demonstre ser um demônio encarnado contraria o que você acredita, não está mais do que na hora de rever os seus conceitos? Se sua teoria está realmente correta, qual mal há em testá-la? Não é hora de perder esse medo de encarar a verdade e substituí-lo por curiosidade?
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