segunda-feira, 18 de julho de 2011

Argumentando no Youtube


Um dos meus passatempos favoritos pela Internet é argumentar com religiosos que eu encontro no Youtube, alguns inteligentes e alguns cabeças-duras. A última “vítima”, bem, digamos apenas que não se classifica na categoria dos inteligentes. A discussão está no vídeo que eu comentei na postagem anterior (meu nome de usuário é gugamilare). Partes da discussão foram omitidas. 

Que crente no avião que não troca a bíblia e a promessa de não horar até atingir o solo por um paraquedas?????????
DarthV1CT0R 5 dias atrás

@DarthV1CT0R Nenhum! O irmão precisa conhecer o Senhor Deus! Crente que é crente morre dando glória!
48228472076888482284 4 dias atrás

@48228472076888482284 Sendo assim, ateu que é ateu morre calado. Afinal de contas, mesmo que eu grite "Meu Deus!" num avião em queda, ele ainda cai.
gugamilare 1 dia atrás

@DarthV1CT0R sim mas se for crente mesmo , pra que se preocupar tem a vida eterna pela frente.
robsonborgesdasilva8 1 dia atrás

@robsonborgesdasilva8 Que ateu que conseguiria passar a crer só por causa do medo?? E que crente que poderia deixar de crer por causa do medo??
Crenças não são escolhas..... São frutos de necessidades emocionais, conclusões ou influências......
DarthV1CT0R 1 dia atrás

@DarthV1CT0R todos, basta ver o criminoso, sob tortura confessa ate o que nao fez. e claro , a necessidade do homem de ter um deus, pois deus criou o homem para adorar, sempre o homem vai ter isso no seu subconsciente.
robsonborgesdasilva8 1 dia atrás

@robsonborgesdasilva8 Alguém sob tortura confessa qualquer coisa, mas confessar e acreditar são coisas muito diferentes.
Responda-me uma coisa: Quem é você para julgar que o crente vai para o céu e o ateu vai para o inferno? Por acaso você é Deus?
Jesus disse que as pessoas serão julgadas independentemente da fé (Mt 25,31-46).
E se, na hora da morte, Deus mandar o ateu para o céu por ter sido uma boa pessoa e mandar o crente para o inferno por ter julgado o ateu?
gugamilare 19 horas atrás

Aff, essa é demais:

@gugamilare quem julga e so deus , eu advirto sobre a lei, prego o que deus mandou pregar. E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo. Apocalipse 20:15
E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre. Apocalipse 20:10 A LEI E ESTA TEM QUE SER CUMPRIDA, mas pode escolher servir a deus ou ao diabo pois so existe esses dois senhores 
robsonborgesdasilva8 6 horas atrás

Aqui está a minha resposta a este argumento, que eu mandei em partes, em vários comentários:

Se é Deus quem julga e não você, então você não pode dizer, de fato, que "o crente, se for crente, vai para o céu", não é mesmo? Mais ainda, você não pode nem dizer que o crente, de fato, tem mais chance de ir para o céu do que um ateu. Afinal, Jesus não preferia os judeus religiosos que viviam do sacrifício, mas sim os marginalizados, que viviam da misericórdia.

Acreditar não é um dom, não é um mérito e nem sequer é uma escolha.
Por exemplo, imagine que você avistou uma pedra no meio do caminho. Por acaso você escolhe acreditar que existe uma pedra ali? Ou isso é simples consequência do que você viu, do que você experienciou? Qual o seu mérito em acreditar que existe uma pedra ali?
Agora, a fé que você tem, no meu ponto de vista, é uma pedra invisível no meio do caminho. Você vê a pedra e acredita com todo o fervor que existe uma pedra, mas eu não vejo pedra alguma!

Daí você argumenta que eu, no fundo, acredito que ali existe uma pedra, só não posso admitir. Depois diz que tem um vazio dentro de mim que só pode ser preenchido se eu ver essa pedra.
Por acaso você é capaz de ler a mente das pessoas? Ou isso é só o que você gostaria de acreditar? Ou seja, não é simplesmente um desejo, um sonho seu que eu, no fundo, acredite na existência de Deus e que eu tenha um vazio dentro de mim?

Quando você diz que Deus é o autor da bíblia, é VOCÊ quem diz isso, e não Deus! E veja o retrato de impiedoso e neurótico é este com o qual você está retratando Deus! Aliás, veja como é cruel esse Deus retratado na bíblia: manda passar a ferro e à espada cidades inteiras: homens, mulheres e CRIANÇAS! Ele dá a sentença de morte para os crimes mais banais! Manda que ursos despedacem crianças ou adolescentes porque eles zombaram que o profeta era... careca!

E, finalmente, veja como isso é contraditório com os ensinamentos de Jesus! E o cristianismo adora mostrar estes ensinamentos, e o fazem com orgulho, porque eles são belos, eu concordo! Mas veja quanta merda o cristianismo esconde por trás desta rosa! Pois o cristianismo é, nas palavras de Jesus, um muro caiado, um belo sepulcro: por fora é dourado, perfumado, lindo, maravilhoso, uma beleza! Mas por dentro, é motivo de vergonha!

E, para finalizar:

@gugamilare DEUS NAO PREFERE crentes, ele prefere o que sacrifica pra ele, que prova a fe nele. todos que sacrificam dinheiro para evangelizar o proximo cre, so quem cre da dinheiro
robsonborgesdasilva8 18 minutos atrás



Para quem quiser acompanhar a discussão, aconselho que procure-a na página de todos os comentários daquele vídeo.

domingo, 17 de julho de 2011

Não existem ateus


Argumentação clássica: não existem ateus nos hospitais, na hora do aperto todos se voltam para Deus. Ao invés de argumentarem com fatos ou evidências, ao invés de simplesmente se conformarem com a realidade que nós, ateus, existimos e que não somos os revoltados incoerentes que eles pensam que nós somos...



Ainda que num avião que está caindo os tripulantes gritarem “Meu Deus!”... isso não impede que o avião caia. Agora, será que os tripulantes preferem esperar a intervenção divina ou pegar um paraquedas e pular? Será que existe alguém que realmente acredita que Deus vai salvá-los da morte ao ponto de não preferir o paraquedas? Será que alguém realmente confia em Deus como afirma confiar?

A afirmação que ateus deixam de sê-lo na “hora do aperto” não é verdadeira, nem todos invocam por Deus nessa hora. Aliás, por que levar mais em conta um instante de desespero onde alguns seriam capazes até de matar para se salvar do que nas situações em que podemos raciocinar livremente?

“Não existem ateus” não é uma crença, é apenas um desejo, porque nós, ateus, desafiamos a posição absolutista que eles querem impor no mundo.

sábado, 16 de julho de 2011

Medo de religião



Cuidado!”, dizem eles, “o que eles fazem lá é perigoso, é coisa do diabo, eles vão te seduzir aos poucos, o que eles ensinam leva você ao inferno...” Ao invés de ter curiosidade a respeito do ponto de vista alheio, a religião ensina o medo da exploração. A consequência disso é a incapacidade de enxergar os problemas da sua própria religião. Se as pessoas não tivessem o medo de conhecer, perceberiam que muito do que elas foram ensinadas não faz sentido algum. Muitas vezes, na visão de um religioso, uma determinada ideia que a religião dele ensina é “linda”, mas outra ideia equivalente em essência que é ensinada por outra religião é completamente absurda.

A religião evoluiu de forma a criar o medo da exploração através dos tempos porque percebeu que a curiosidade leva os crentes a abandonarem-na. O mecanismo de defesa utilizado por ela é estabelecer uma mentalidade “nós versus eles”: a nossa religião é a certa, a religião deles é errada, não importa o que eles dizem, não importa o que aconteça. As justificativas variam, mas a essência é a mesma: categorizar tudo o que é contra a sua religião como um bloco gigante e monocromático, o que vale para um deles, vale para todos, os absurdos que um diz e as atrocidades que outro comete, todos eles têm. O propósito do bloco gigante não poderia ser outro que não destruir a religião, mas apenas aquela religião, a “correta”.

Apesar das televisões serem coloridas há mais de meio século, muitos ainda veem o mundo em preto-e-branco.

Quando eu ainda estava no ensino fundamental, li uma história em que uma pessoa contou uma versão indígena da criação do mundo. Os outros alunos da história, é claro, riram “porque a história era ridícula” e se me lembro bem até os meus colegas de classe riram, mas eu parei e pensei: a estória de Adão e Eva é igualmente ridícula. Enquanto na versão indígena os homens foram criados a partir do mel, na versão bíblica, eles foram criados a partir do barro. Aliás, prefiro a primeira versão: que o homem teria vindo do doce mel, talvez para explicar porque somos muitas vezes tão obcecados em fazer o bem e em adocicar a vida dos outros, como nenhum outro animal do nosso planeta que eu tenha conhecimento.
Muitos cristãos acham absurda a ideia de Deus proibir trabalho aos sábados que judeus e algumas denominações cristãs acreditam (apesar disso estar escrito na bíblia deles também - mas, é claro, isso é ignorado junto com todas as ideias perversas e sanguinárias existentes na bíblia), mas eles mesmos não comem carne na sexta-feira santa, fazem penitência por 40 dias antes da páscoa, comem um pedaço de pão ázimo toda semana, e tudo isso simplesmente porque... são ordens divinas! E estas ordens nem sequer estão na bíblia! (Note que a santa ceia relatada nos evangelhos é muito diferente da “comunhão”).

Vi a poucos dias um pedaço do filme Alexandria em que cristãos do final do século IV zombavam dos egípcios porque as estátuas de seus deuses não falavam. E o deus dos cristãos, por acaso fala? Já vi católicos criticarem não católicos por zombarem das imagens de santos e vi estes mesmos católicos zombarem da igreja destes não católicos por não terem imagens! Ou seja, criticam e, ao invés de fazer diferente, imitam! Ouvi um católico contando que um espírita explicou o comportamento de alguém dizendo “isso veio das encarnações passadas dele” e o católico respondeu: “Ah, cala a boca, vai!” Fiquei completamente abismado, não sabia o que responder. Da próxima vez que esse católico vier me explicar alguma coisa dizendo que foi o milagre de santo, eu vou mandar ele calar a boca também! Ou melhor, não vou dizer, recuso-me a imitar este comportamento desprezível.

Mas é claro que só a explicação que menciona reencarnações passadas é que é absurda. Será? Tem certeza? Se eu for até um centro espírita e perguntar o que eles acham da ideia de que santos fazem milagres, será que eles vão confirmar essa ideia? Ou então numa igreja protestante, o que eles vão responder?

É o sujo falando do mau lavado.

Já vi pessoas de alguns grupos religiosos perguntando umas às outras: “será que tem outro grupo como o nosso?” Fato: sim, tem um em cada esquina, eles não acreditam nas mesmas coisas, mas em essência são muito parecidos. Tem um grupo em cada esquina afirmando “Nós somos únicos, não somos como os outros, somos 'especiais', sabemos a 'verdade' que os outros não sabem, entendemos o que os outros não conseguem entender.” Têm mania de perseguição, estão todos contra eles e as críticas feitas a eles nunca são verdades, são apenas provações para testar a firmeza da fé deles. Alguns grupos são bem menos radicais que os outros e não possuem todas essas características perniciosas, mas infelizmente não se pode dizer isso de muitos deles.



Apesar que muitos filósofos utópicos adoram afirmar que “todas as religiões estão certas”, isso é obviamente errado. As religiões estão todas erradas. Sim, todos estamos errados, somos todos baratas tontas procurando a verdade, de uma forma ou de outra. Infelizmente as religiões deliberadamente escolhem não parar para questionar e usar a razão a respeito do que elas acreditam (a razão é apenas para desbancar as outras religiões, nunca a sua), e isso as torna extremamente enganadas, não em uma coisa ou outra, nem em questões que elas decidem parar para pensar, mas em tudo, da raiz às folhas. O problema está na base: se a base não é sólida, a casa cai. É como Jesus disse: uma casa sobre a areia é derrubada pelo vento. Como as religiões estão completamente erradas nas suas premissas mais essenciais, e principalmente porque elas se recusam a parar para questionar, elas apodrecem por inteiro.

Agora, se as religiões são podres, qual o motivo para conhecê-las? Aí está um fato que muitos ateus geralmente negligenciam: acontece que as religiões estão podres em sua casca, mas o miolo é bom. Isso não quer dizer que religiosos radicais estão certos: não, os fundamentalistas são os piores. Entretanto, procurando, é possível achar um grupo aqui e outro acolá que, apesar de muitas vezes não serem racionais em tudo, têm ideias inteligentes, bem pensadas. Não porque eles seguem a religião às cegas, mas porque eles param para pensar ao invés de acreditar mecanicamente.

Algumas histórias (ou estórias) sobre as quais as religiões se formaram também podem ser interessantes e influenciarem a reflexão. É o caso dos profetas: de Cristo, de Buda e de Gandhi. As histórias, todas elas, tem partes boas e partes ruins, é preciso separar cuidadosamente o que você concorda ou não (mas tem que ter a consciência de que esta é a sua opinião, e não a verdade absoluta que rege o universo). Ao contrário de muitos que têm medo da própria religião por receio de ser tornarem fundamentalistas, eu não tenho medo de aprender ou de discutir a respeito deles. Só um aviso: isso não quer dizer que eu tenha paciência para sair experimentando os encontros das igrejas: eu escolho aprender apenas sobre o que me interessa e ouvir a opinião apenas daqueles que eu quiser ouvir.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Mania de controle

O fanático tem mania de criar regras, exigir que os outros as sigam e, quando estes não a seguem, se irrita, inventando que, sem estas regras, o mundo viraria um pandemônio. Mas, ao gritar-se “silêncio!”, cria-se barulho, e assim, com pessoas gritando regras por todos os lados, o mundo vira de fato um pandemônio. Algumas regras, é claro, são necessárias, mas, se a intenção é fazer as pessoas se rebelarem umas contra as outras e criarem traumas psicológicos, basta suprimir-lhes a liberdade. Os gritos provenientes dos maníacos por controle e disciplina tomam conta do ar e acabam com qualquer tentativa de silêncio.

Quando homofóbicos lutam a todo custo para impedir uniões homossexuais e que eles tenham os mesmos direitos dos cidadãos comuns, qual o resultado? Uma guerra. E, para piorar, os homossexuais incitam ainda mais este preconceito, provocando os homofóbicos, por exemplo ao vestir imagens de santos com roupas provocativas. Qual poderia ser a resposta a isso? Os que são contrários iriam por acaso arrepender-se, admitir que eles estão errados e que os homossexuais devem ter direito ao casamento, à igualdade? O que mais poderia ser esperado além da raiva? Não está óbvio que esta é uma forma contra-produtiva de tentar combater a homofobia?

O mesmo vale para os ateus que decidem entrar numa guerra aberta contra os religiosos, engajando-se num vale-tudo. Não, não importa qual o objetivo, não pode-se tentar institui-lo a qualquer custo e ignorar as consequências. Não somente porque não é correto, mas principalmente porque não funciona. Se o seu inimigo é fanático e não se importa com as consequências, então, aconteça o que acontecer, não o imite! Não seja um hipócrita, criticando os defeitos ao mesmo tempo que os espelha! Por exemplo, o próprio Cristo criticava os fariseus por rezarem em público e por dar valor ao sacrifício em vez da misericórdia, e quantas vezes ele dizia para amar os inimigos. Hoje em dia, alguém que menciona o nome de Deus para a própria glória é aplaudido e os cristãos fazem pressão para que as pessoas frequentem a igreja e sigam tantos outros rituais, enquanto que a misericórdia é reservada apenas aos “irmãos”.

Repito: não adianta fazer pressão. A não ser, é claro, que o objetivo seja esmagar. Quanto mais a Igreja Católica insistir na institucionalização do celibato, mais padres pedófilos surgirão. Quanto mais a juventude for iludida com a “santidade” da castidade, mais casos de gravidez na adolescência e de aborto por motivos de pressão social surgirão. Neste caso, eu sugiro que se faça uma escolha: o que é mais importante: que haja castidade ou que não haja aborto?

Enquanto os judeus tentavam a todo custo fazer com que Maria Madalena se arrependesse e deixasse de ser prostituta, e falhavam neste propósito, Jesus simplesmente a aceitou. Ao invés de atacar com unhas, dentes e pedras a mulher adúltera, ele a defendeu com um pedaço de pau e um punhado de areia. Pois ele sabia que basta aceitar as pessoas que elas resolvem seus próprios problemas.

É comum acreditar que os homossexuais são promíscuos e que estão prejudicando a si mesmos. Se isso tem algum fundo de verdade, a causa não é o homossexualismo em si, mas a cultura homofóbica que os rodeia. Ao invés de tentar adequá-los aos seus padrões de comportamento, deixe-os livres para que eles possam se adequar aos padrões de comportamento deles mesmos. Talvez tais valores não sejam tão baixos quanto você pense, e talvez sejam mais altos que os seus. Se, em algum momento, eles tentarem ferir os seus direitos no que quer que seja, então nós tentaremos buscar uma solução. Mas enquanto os homofóbicos tiverem mania de perseguição, insistindo em ver problemas onde não tem, mais e mais problemas vão surgir pelo caminho.

A mania de controlar os outros tem origem na mania de controlar o próprio corpo, os próprios desejos. Essa é a maneira errada de lidar com eles.

Considere, por exemplo, o encontro de Buda com os ascéticos. Conta a história que Sidarta Gautama, o Buda, após ter abandonado o palácio de seu pai e toda a extrema luxúria existente nele, procurava uma resposta sobre como lidar com o sofrimento, pois ele havia acabado de conhecer a doença, a velhice e a morte, fatos da vida que Buda até então não havia tido contato. Depois de ter procurado ajuda de líderes espirituais e os abandonado por perceber que os rituais não levavam a nada, ele encontrou-se com um grupo de ascéticos. Asceticismo é a prática de castigar o próprio corpo numa tentativa de libertar-se dele, libertar-se do sofrimento, tornar-se independente dos desejos humanos.

E Buda, seguindo os costumes dos seus novos companheiros de jornada, castigou-se ao extremo.
“Levarei a austeridade ao extremo,” pensou Gautama. “É assim que adquirirei sabedoria.” Ele praticava o jejum, o qual pensava-se ser um dos melhores caminhos à sabedoria. Ele vivia com um grão de arroz por dia, e depois, nem mesmo isso.1 Seu corpo tornou-se tão magro que suas pernas pareciam varas de bambu, sua espinha era como uma corda, seu peito era como o telhado incompleto de uma casa, seus olhos bem afundados, como pedras num poço profundo. Sua pele perdeu seu brilho dourado e tornou-se preta. De fato, ele parecia um esqueleto vivo - todos os ossos sem nenhuma carne! Ele sofria terrível dor e fome, e ainda continuava a meditar.2

Outra forma de torturar seu corpo era segurar sua respiração por um longo tempo até que ele sentisse violentas dores nos ouvidos, na cabeça e no corpo todo. Ele então perdia os sentidos e caía no chão. Durante a lua cheia e a lua nova, ele adentrava a floresta ou um cemitério para meditar, vestindo trapos que conseguia nos túmulos e em montes de lixo. Ele ficava amedrontado no início, especialmente quando animais selvagens apareciam, mas ele nunca fugia. Ele ficava para trás com bravura nestes lugares terríveis, meditando o tempo todo.

Por seis longos anos ele fez estas práticas e, apesar da grande dor e sofrimento, ele não encontrou sabedoria ou resposta para as suas perguntas. Ele finalmente decidiu, “Estas austeridades não são o caminho para a iluminação.” Ele foi mendigar pela vila por comida para desenvolver seu corpo. Quando seus cinco amigos viram isto, ficaram desapontados. Eles pegaram suas tigelas e mantos e saíram, não querendo mais relação nenhuma com Gautama.


1 A história obviamente foi exagerada, mas resolvi citá-la sem alteração para que se mantenha a poesia.

2 Eu não sou budista nem aprovo o incentivo à dependência da meditação por parte do texto. Parece-me que “meditação” para Buda significava meramente “reflexão” que ele aparentemente praticava em silêncio e de forma disciplinada, e não repetição de mantras ou manipulação dos chacras. Para mim é muito improvável que alguém desprovido de contatos com rituais religiosos durante os 30 primeiros anos de sua vida, conforme diz a história, e que dava tanto valor à razão e à discussão como Buda possa passar a dar valor a um conjunto de rituais os quais, de acordo com sua experiência prévia com eles, não traziam benefício algum.
Fonte (tradução livre)

No caso de Gautama, é claro que torturar-se para encontrar uma maneira de tornar-se independente do seu próprio corpo o tornava ainda mais dependente dele. O faminto não consegue concentrar-se em outra coisa que não sua própria fome e, por isso, torna-se escravo dela. Como é que Gautama, ao prender a respiração e praticamente desmaiar, seria capaz de encontrar a resposta para qualquer coisa que seja? O cérebro não funciona quando está inconsciente!

Se, ao contrário dos ascéticos, você tratar o seu corpo com respeito, se suas vontades mais fortes forem saciadas ao invés de combatidas, então o seu corpo lhe devolverá disposição quando você precisar dela. Seja amigo do seu corpo e ele será seu amigo. Seja inimigo dele e ele será seu inimigo. Não é possível arrancar uma ferida com uma faca.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Um pedido de desculpas

Peço humildemente desculpas para aqueles que se ofenderam ao ler a primeira versão do texto anterior. Peguei-me numa tremenda hipocrisia, criticando o fanatismo religioso por lutar para instituir os valores da sua religião na sociedade sem obedecer aos limites do respeito humano e, ao mesmo tempo, tornando-me um fanático do lado oposto, como num espelho, que inverte a imagem mas que mantém o conteúdo vil.

Reformulei o início do texto e adicionei a seguinte frase ao penúltimo parágrafo:

Entenda-se: a minha crítica não é com as pessoas que costumam frequentar a igreja ou sentem-se confortáveis ao participar dela, a minha crítica é com a insistência em acreditar que as igrejas estão sendo abandonadas pelos fiéis por culpa destes e não da celebração litúrgica em si.

Espero que isto tenha sido o bastante para evitar que o texto seja ofensivo, de forma pessoal. É claro que, para alguns, o texto ainda pode ser ofensivo, pois não é possível fazer uma crítica sem que alguém se irrite com ela. Neste caso, espero ao menos que a raiva não seja por minha culpa, mas pela objeção à mudança.
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