terça-feira, 30 de agosto de 2011

Teorias de conspiração


Quando um grupo de pseudo cientistas não conseguem provar as afirmações que eles fazem e para as “evidências” que eles apresentam, a credibilidade deles fica bem comprometida. E qual é a solução? Uma teoria de conspiração!

Os que acreditam em extraterrestres dizem que o governo dos EUA e da China encobrem as evidências alienígenas. Tem aquela teoria da Nova Ordem Mundial e não sei mais o quê. Tem outras três teorias de conspiração no filme Zeitgeist: Jesus Cristo foi inventado pelo Império Romano para controlar o povo, o ataque de 11/9 foi planejado pelos EUA e a terceira tinha a ver com bancos, nem assisti. As religiões cristãs dizem que o mundo é do demônio, as pessoas querem se afastar de Deus, etc, etc. E os criacionistas insistem em afirmar que a ciência quer, a todo custo, “acabar com Deus”, destruir qualquer evidência de que ele exista, enfim, tudo um plano de conspiração dos “naturalistas”.

Se o que você quer é “provar” uma teoria que não faz o menor sentido, primeiro, faça-se de vítima, diga que ninguém ouve o que você tem a dizer nem dá valor para o seu ponto de vista. Depois, diga que a culpa pelo ouvinte não acreditar é dele mesmo – ele está sendo tendencioso, conveniente… Aí, para explicar porque todo mundo está errado e você não, invente uma teoria de conspiração.

Provas? Esqueça as provas! Apenas arranje umas evidências circunstanciais e tudo resolvido. Quem sabe o que está acontecendo não vai cair na sua, mas o povo, desinformado, acredita, todo mundo adora uma teoria de conspiração. E quando alguém se apresentar, analisar a situação e explicar o que realmente está acontecendo, daí você fala que ele faz parte da conspiração! Olha que conveniente!

Estes criacionistas que foram criticados e “perseguidos” não foi meramente por serem criacionistas, mas por não terem sido cientistas. É claro que o criacionismo tem péssima reputação no meio científico, assim como teorias alienígenas, homeopatia, clarividência, energias, astrologia… Mas esta reputação foi conquistada pelos seus próprios proponentes, não por uma “conspiração para acabar com Deus”.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Vídeo: “Misquoting Jesus” (Citando Jesus incorretamente)


Palestra do historiador Bart D. Ehrman.


Os manuscritos originais dos livros que deram origem à bíblia não existem mais. Isso não é exclusivo dos livros da bíblia, qualquer livro antigo possui este problema. Os manuscritos mais antigos dos evangelhos datam de séculos depois das versões originais destes. Como não havia imprensa, as cópias eram feitas à mão e sujeitas a muitos erros: dos milhares de manuscritos encontrados que estão na língua original, historiadores estimam que o número de diferenças entre eles pode chegar às centenas de milhares.

Alguns erros são acidentais enquanto outros são aparentemente intencionais – embora haja divergência de opinião em alguns casos. Foram dados alguns exemplos que eu consultei na minha bíblia (“A Bíblia de Jerusalém”) para conferir. Algumas das alterações suspeitas:

  • A história da mulher adúltera (Jo 8, 1-11) não existia no evangelho de João até o século X! E não encontra-se em nenhum dos outros evangelhos! Novamente, a nota de rodapé confirmou que esta história foi uma adição posterior, embora não confirme que esta adição se deu mil anos depois da história original. Entretanto, a minha bíblia afirma descaradamente que “seu valor histórico não sofre contestação”. Dá pra acreditar nessa palhaçada?
  • Nas versões mais antigas, no final do Evangelho de Marcos, Jesus não aparece após ressuscitado. No final deste evangelho, duas mulheres (das quais nenhuma das duas era a mãe de Jesus, diga-se de passagem) avistaram um homem no túmulo onde Jesus não estava que afirmou que Jesus havia ressurgido dos mortos e mandou que elas contassem as discípulos. Elas, então, saíram apressadamente e não contaram a ninguém, pois tinham medo, e a história acaba. A nota de rodapé que eu encontrei na bíblia confirma essa informação.
  • Durante a paixão, no evangelho de Marcos, Jesus fica em silêncio durante todo o caminho para apenas dizer ao final “Meu Deus, por que me abandonaste?”. No evangelho de Lucas, ele conversa com as mulheres que choram por ele, tem uma conversa inteligente com o ladrão sendo crucificado ao lado e, ao morrer, diz “Deus, em suas mãos eu entrego meu espírito”. Assim, no evangelho de Lucas, Jesus sabe exatamente o que está acontecendo e o que vai acontecer depois, como se ele estivesse no controle, enquanto que no de Marcos, pelo contrário, ele aparenta morrer inconformado com seu fim.
  • Alterações menores foram feitas para sustentar a visão dos escribas que copiavam os evangelhos. Uma delas é a remoção em alguns manuscritos da famosa fala de Jesus “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem” pois alguns sustentavam a ideia de que Deus não teria perdoado aos judeus por terem-lhe entregado à morte. Outra é a adição de partes onde Jesus dizia que as mulheres não podiam falar nas igrejas.
  • A declaração de que Deus Pai, o Verbo e o Espírito são um só Deus encontra-se apenas na Primeira Epístola de João (I Jo 5, 7-8). Ela não se encontra nas versões em grego originais da carta, mas apenas nas versões em latim. Informação confirmada no rodapé da minha bíblia. De acordo com Ehrman, na primeira impressão da primeira versão da bíblia (em 1516) não constavam estes versos e, de acordo com a história contada, eles produziram um manuscrito em grego contendo estes versos para que concordassem em colocá-los na segunda edição da bíblia.

O Evangelho de Marcos é, dos quatro, o mais antigo e nele foram baseados os dois evangelhos que foram escritos em sequência, o de Mateus e de Lucas. O fato de a versão original do final deste evangelho ter se perdido – ou de nunca ter existido para inicio de conversa – coloca, para mim, um grande ponto de interrogação. Será que na história original Jesus realmente ressuscitava? Será que ele aparecia aos discípulos? Ou será que ao final da história Jesus havia simplesmente desaparecido?

Uma sugestão dada pelo historiador: ao invés de ler os evangelhos um de cada vez, leia-os em paralelo e anote as diferenças. Elas serão muitas. Onde e como Jesus nasceu, ou como ele morreu, quem estava assistindo, a que horas foram os julgamentos antes da crucificação, como estava o tempo, quem foi visitá-lo na tumba, quem o viu depois de ressuscitado... Tudo isso muda de acordo com o evangelho em consideração.

Uma consideração final dada por ele é que isso que ele está afirmando e escreveu num livro é conhecido por estudiosos há tempos, não há nada de novo, nada de controverso. O problema é que as pessoas não conhecem estes detalhes e isso é o que o motivou a escrever o livro.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A importância das diferenças


É bastante comum que cada grupo de pessoas pense que a existência de outros grupos é um fardo. Por exemplo, muitos ateus acreditam que o mundo seria muito melhor se não houvesse religiões. Eu também pensava assim. Espíritas, se não me engano, costumam pensar que membros de outras religiões estão num estágio evolutivo mais “atrasado”. Cristãos têm o costume de achar que quem deliberadamente “rejeita” a Deus ou à sua religião comete um pecado mortal e está um passo mais próximo do inferno. Mas um judeu engraçado ensinou-me uma verdade ridiculamente óbvia que eu não conseguia enxergar por mim mesmo: as diferenças não são um fardo, pelo contrário, são benéficas e essenciais.

Voltemos à idade média. Como se sabe, a Igreja Católica era muito intolerante: qualquer um com opinião contrária era mandado à fogueira. Ela realizou guerras e chacinas sem sentido, foi uma tremenda estupidez. Mas, onde ela errou? Qual foi seu grande pecado? Para encontrar a resposta, é necessário levar outro fator em consideração, o povo: não se realiza guerras sem um exército e nem chacinas sem súditos leais. Lealdade: esta é a chave. O que faltava eram pessoas que não fossem súditos da Igreja. Ou seja, o mundo precisava de ateus, de céticos que chegassem na cara do papa e falassem: você está sendo um tremendo estúpido! E onde estavam, afinal, estes céticos que não apareceram?

Eles foram queimados!

Estava aí a grande esperteza da Igreja: ela sabia que, no momento que pessoas começassem a duvidar e a questioná-la em público, as pessoas perceberiam a aberração que eles estavam cometendo contra a natureza e deixariam de ser súditas leais da Igreja. Ela perderia seu poder e se colocaria no seu lugar. O grande pecado dela foi achar que ela não precisava ser questionada, pois, é claro, a Igreja é fonte de toda a verdade, não é? Para ela, os inimigos eram um estorvo desnecessário e não fariam a menor falta, eram descartáveis.

Ela não poderia estar mais enganada!

Mas ela, ao contrário do que se pensa, ainda não aprendeu essa lição: ela ainda comete o pecado do orgulho de acreditar que ela possui as chaves do céu. Ela reconhece os erros que cometeu, mas não os que ela comete, especialmente o erro de considerar a apostasia um pecado mortal.

É comum o catolicismo afirmar que a Igreja é um corpo e cada membro dela é uma parte deste corpo. Um corpo não funciona sem as partes, uma perna não consegue andar sem o resto do corpo; sem os olhos, o corpo não saberá para que lado andar. A comparação faz sentido, mas está errada: a igreja não é o corpo, é muito egoísmo por parte dela afirmar isso. O corpo é o mundo, a humanidade. Os católicos formam apenas uma parte deste corpo e, sendo assim, não podem andar para o lado certo sem o resto, sem os que não são católicos. Apostasia não é pecado, é uma vocação!

Nós ateus somos chatos, perturbamos a paciência e o sossego dos religiosos, sim, é claro. Ai de nós se não o fizéssemos! Estamos apenas fazendo o que os céticos dos dois últimos milênios ou mais não tiveram a oportunidade de fazer. E chegamos tarde, mas estamos de volta!

É muito comum em discussões os ateus atiçarem os cristãos apontando as chacinas da bíblia e da Idade Média, e, como resposta, os cristãos citam Hitler, Stalin e Mao. Bem, Hitler definitivamente não era ateu, mas isto é irrelevante: não foi ideologia alguma que fez deles assassinos, mas sim a intolerância. Podemos até dizer que o que os tornou assassinos foi a falta de outras ideologias.

Todos os que eram obedientes à Igreja Católica tinham muito a aprender com os ateus teimosos que eles cegamente jogavam à fogueira. Eles eram obedientes demais, os céticos rebeldes que eles queimavam fizeram-lhes falta. Todos os que ajudaram a Hitler também não foram inteligentes em jogar judeus nas câmaras de gás. Ao longo dos séculos, o judaísmo foi um povo que viveu em meio a outras culturas, praticando-as, escondido por medo da constante dominação e perseguição pelas religiões predominantes do mundo. O resultado é que, de um povo que aparentemente gostava de invadir o território de outros povos e matar todos os que ali se encontravam, originou-se um povo que valoriza a variedade cultural e isso se reflete inclusive no que eles acreditam: para eles, a existência de diferentes crenças é a vontade divina, cada uma delas serve a um propósito. E eles não acreditam em inferno. Os nazistas, crentes que eram uma raça superior e que seriam capazes de dominar o mundo, perderam a chance de aprender com os judeus que não existe raça ou cultura superior. Se eles não eram superiores, a guerra evidentemente seria, e foi, suicídio. Bastava-lhes aprender esta lição com os judeus para evitar esta tremenda tragédia.

Por que que homofóbicos costumam dizem tantas besteiras a respeito da homossexualidade? É que eles fogem dos homossexuais! Como poderiam eles dizer algo sensato se não têm experiências que não as puramente teóricas? Ou se as opiniões que eles ouvem são de pessoas tão tendenciosas quanto eles mesmos? O padre Fábio de Melo afirmou ser surpreendente o fato de homossexuais saberem a importância de não se ter preconceito e do respeito. Mas isto não é surpreendente, muito pelo contrário, isto é óbvio! Quem mais sabe sobre preconceito senão aqueles que o sofreram? Quem entende mais de violência que os violentados? E quem compreende melhor os homossexuais: eles mesmos ou os padres? Como poderia um bispo entender de estupro?

Não é claro que existe violência excessiva contra homossexuais? Pois a única cura para este problema são os próprios homossexuais! Só eles carregam o conhecimento e a experiência para entender e combater esta violência que está à tona. Por que as pessoas procuram padres para entender a homossexualidade? Ou para entender de sexo, camisinha, aids? O que poderia um celibatário saber a respeito disso? Como seria possível aprender a amar os inimigos dentro de uma igreja se estes não costumam aparecer por lá? E por que raios as pessoas procuram respostas na bíblia para problemas do mundo real?

Aprenda esta lição, caro leitor: o homem escreveu a bíblia e Deus criou o mundo! Qual dos dois poderia ser mais belo e dar as respostas certas? Se Deus existe da forma que costumam afirmar, foi ele quem criou as diferenças, tanto de raça quanto de religião, e criou inclusive os homossexuais, exatamente como eles são.

A palavra tolerância está viciada, lembra aturar, mas tolerância não tem nada a ver com aturar. Tolerância não é um fardo, pelo contrário, é um alívio e traz benefícios. Intolerância, por outro lado, é um enorme fardo a se carregar, além de ser um imã potente para a raiva e a violência. E ainda por cima os intolerantes nem sequer têm o direito reclamar ou de fazerem-se de vítimas. Embora eles sempre reclamem e se façam de vítimas, pois, é claro, eles acreditam serem vítimas.

A noção corrente é que Jesus amava os inimigos porque era bom, altruísta. Daí a desculpa (esfarrapada) se usa para a intolerância é que ninguém é perfeito como o Cristo, ele era filho de Deus, era perfeito, não pode ser usado para comparação. Mas e se Jesus não era bom? Será que ele não sabia que, quanto menos inimigos ele fizesse, melhor para ele, melhor para a sua causa? Mais pessoas apoiariam a sua causa, mais força ele teria para acabar com a hipocrisia dos fariseus e sacerdotes e para combater a pobreza que assolava Israel da qual ele mesmo era vítima? E se Jesus era apenas inteligente? Não amar os inimigos não é falta de bondade, é burrice!

Gandhi estava em jejum, ele prometera não comer nada até que se desfizesse a violência que havia na cidade de Calcutá entre hindus e muçulmanos. Não havia quem o convencesse a comer, estava fraco, deitado, não podia levantar-se.
Nahari: Coma! Coma!
Eu vou para o Inferno, mas não com a sua morte na minha alma!
Gandhi: Só Deus decide quem vai para o inferno.
Nahari: Eu matei uma criança! Esmaguei a cabeça dela contra a parede!
Gandhi: Por quê?
Nahari: Porque eles mataram o meu filho! Meu menino! [indicando a altura do menino] Os muçulmanos mataram o meu filho!
Gandhi: Conheço um jeito de escapar do Inferno. Encontre uma criança, uma criança cujos pais tenham sido mortos, um menino mais ou menos desta altura [indicava a mesma altura] e crie-o como seu.
Apenas certifique-se de que ele é um muçulmano e que você o crie como um.
Gandhi (Filme, 1982)

Eis, pois, o meu recado para cada religioso, especialmente entre os cristãos e muçulmanos, em nome dos ateus e céticos, ou, ao menos espero, em nome de uma boa parte deles: não somos seus inimigos. Acredite quando eu digo: você tem muitos inimigos, mas, por mais estranho que pareça, nós não somos um deles! Os seus inimigos também são os nossos. Não estamos aqui para acabar com a sua religião ou com o seu direito de segui-la, mas para acabar com a ignorância. Estamos tentando fazer com que você veja as coisas que você não quer ver e que pense a respeito das coisas que você tem medo de pensar. Precisamos, sim, ser importunantes, não existe outra maneira, mas isso não significa que queremos o seu mal, muito pelo contrário!

Veja quanto o mundo mudou porque alguém teimou em dizer que o mundo é redondo. Não existe mais a Inquisição, as pessoas ganharam liberdade de crença e de expressão, a Igreja Católica perdeu grande parte do seu poder político e pediu desculpas pelos seus erros do passado, os Estados tornaram-se laicos... E por que os questionadores ainda são vistos como pessoas más e tendenciosas? Por que que aqueles que querem que as coisas tomem um rumo diferente ao invés de voltar às raízes religiosas ainda são vistos com desprezo? Por que que as pessoas ainda não aprenderam a ouvir antes de formar uma opinião contrária a respeito do que não conhecem? Por que elas insistem em ver só um lado do poliedro?

O mundo está mudando, a onda de informações está fazendo com que as religiões recuem cada vez mais. Queira você ou não, a sua religião está ameaçada. Se você acredita que a sua religião é verdadeira e se a sua intenção é que ela sobreviva, você precisa aprender a ouvir, a pensar e a questionar, você precisa se informar para defender o seu ponto de vista. Ninguém o fará por você! Mais do que isso, você não pode ter medo da verdade! E se a sua concepção de mundo não for a correta? E se você estiver na religião certa, mas ter a concepção errada dela? E se você estiver na religião errada? E por que que para você nós obviamente estamos errados? E se o nosso ponto de vista não for tão tendencioso quanto você pensa? E se no fundo a gente tiver razão? Se você tem tanta fé no que acredita, que mal faz questionar, conversar, discutir?

Pelo que me consta, qualquer ideologia que se isola das demais tende ao exagero e consequentemente ao fracasso em alcançar os próprios ideais que são pregados. Infelizmente, esta é a reação normal do ser humano: fugir dos que discordam e, por consequência, tornar-se ainda mais fanático ao seu próprio mundo. Enquanto isso, o mundo real fica dividido, esta é a condição do mundo atual.


Por outro lado, quando existe apenas uma forma de ver o mundo, não há divisão, mas também não há diferenças. A aparente igualdade entre as pessoas é antinatural e só pode existir sob pressão. Nesta situação, ninguém segura as rédeas da fera. A ideologia corrente toma a sua forma mais maliciosa, os problemas vão ao extremo, a pressão tende a aumentar até que se perca o controle e tudo vá para os ares. Isso é o que acontece com indivíduos, não é diferente com grupos de pessoas ou com países: considere, por exemplo, a Idade Média e ditaduras em diversos países.


Se, ao invés disso, pessoas de diferentes formas de pensar estiverem dispostas a deixar o seu orgulho de lado e escutarem umas às outras e refletirem a respeito disso, as diferenças se complementam. Não se deve tentar fazer com que as pessoas vejam o mundo da mesma forma nem que elas concordem com os mesmos princípios, não é este o objetivo: pessoas diferentes resolvem problemas diferentes e as diferenças transformam-se em solução. Exemplos são as histórias de Mahatma Gandhi, de Jesus Cristo e de Buda. Gandhi, penso eu, é o melhor exemplo.


sábado, 6 de agosto de 2011

Inferno: três perguntas para quem acredita


As respostas mais comuns para a pergunta “Como Deus pode ser bom e ter criado o inferno?” é que “Deus é bom, mas também é justo” e “os fins justificam os meios”, ou algo equivalente. A palavra-chave é justiça. Neste caso, tenho três perguntas para fazer.

Suponha que passaram-se alguns anos e chegou o fim do mundo, todo mundo morreu e Deus está lá julgando cada um. Todas as pessoas que você conheceu na vida tinham uma maldade escondida, um não rezava direito, outro não tinha fé o bastante, enfim, seus amigos, pais, filhos, primos, tios, colegas de trabalho, todos eles foram condenados ao inferno. Ou eles foram por escolha, depende de como você acredita que vai ser, não importa. Aí Deus se vira pra você e diz que você pode entrar no paraíso.

Minha primeira questão: você conseguiria ficar feliz sabendo que todas as pessoas que você amava estão sofrendo uma dor terrível, insuportável pelo resto da eternidade? Mesmo sabendo que você ficaria ao lado de Deus? E se você, que é uma criatura imperfeita e que não sabe amar tanto quanto Deus, não é capaz de ficar feliz nesta situação, como Deus poderia ficar satisfeito e acreditar que “os fins justificam os meios”?

Imagine agora que você teve um filho, ele cresceu e fez algo muito maldoso e a maldade dele foi tanta que você decidiu puni-lo com a punição mais severa que você pudesse imaginar. Então você amarrou o seu filho no porão da sua casa, libertou um psicopata da prisão, de alguma forma, e pagou-o para que torturasse o seu filho da pior maneira possível pelo resto da vida dele. Você até comprou instrumentos de tortura dos mais diversos tipos.

Eu pergunto: o que pode o seu filho ter feito para que você tomasse essa decisão?

Você acha isso cruel? Entretanto, isso não chega nem aos pés da crueldade que o catolicismo prega com respeito ao inferno. De acordo com a doutrina católica, não é necessário fazer uma coisa tão ruim assim para ir ao inferno, basta, por exemplo, não ter fé o bastante ou ser promíscuo.


Isso me leva à minha pergunta final:

É isso que você chama de justiça?

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Delícia de terapia

Pois é, aparentemente é possível “curar”, ou melhor, transformar homossexuais em heterossexuais...


Referência do vídeo.

A vítima, quer dizer, o cliente sentava-se no chão entre as pernas esticadas do guia do acampamento, encostando a cabeça sobre seu ombro. O guia ficava sentado e envolvia suas penas ao redor do peito do cliente. Esta forma de segurar chamava-se “A Motocicleta.” Cinco homens ficavam ao redor dos dois, colocando as mãos gentilmente sobre os braços, pernas e peito.

E o terapeuta fica excitado. E as ereções faziam “parte do tratamento”.

Hum... Delícia de terapia!

Além disso, o terapeuta foi até acusado por dois clientes de pedir a eles que eles se despissem e se masturbassem na sua frente.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Um homem que era mulher


Um rapaz decidiu um certo dia entrar para um time de futebol. Durante o exame médico, uma surpresa: o que nele aparentava ser um pênis não era um pênis, mas um caso raro de pseudo-pênis causado possivelmente por um enlongamento labial. Era uma pele. Ele era uma mulher, nascera menina e não sabia disso até então.

Desde criança, ele sentia-se diferente dos outros meninos, pensava diferente, comportava-se como uma menina, gostava de brincar de boneca, era vaidoso, queria usar esmaltes, brincos, maquiagem, mas não lhe era permitido, porque essas coisas são de menina, e ele era um menino, vestiam-no como menino, mandavam-no ao banheiro masculino, na educação física ele ficava com os outros meninos, davam-lhe carrinhos e bonés. Ele tinha uma personalidade feminina reprimida. Conforme crescia, não sentia atração pelas moças, ao contrário dos seus amigos. Não, em vez disso, tinha poucos amigos, muitas amigas e sentia atração pelos meninos. A sociedade não o permitia ter estes sentimentos, ele deveria gostar de meninas, mas ele não gostava, não conseguia, não fazia parte dele.

Ele, ou melhor, ela, ingressou-se no time de futebol por obrigação social. Não gostava de futebol, não tinha interesse nesse esporte violento de macho. Ela olhava para o seu pênis e pensava: Este membro não é meu, não pode ser, tem alguma coisa errada! Ela era homem e tinha que se adequar à sociedade, ela tinha que se fazer sentir-se um homem de um jeito ou de outro. Nada funcionava direito, então ela decidiu entrar naquele jogo de homens viris para ver se aquilo poderia finalmente fazê-la deixar de sentir-se diferente e torná-la num homem de verdade.

Mas ela não era homem, ela era uma mulher! Por mais que ela tentasse mudar a sua própria natureza, jamais conseguiria. Ao descobrir por fim a sua condição rara, realizou uma cirurgia de mudança de gênero, que não era de fato uma mudança de gênero, era meramente a remoção de um pedaço do seu corpo que não lhe pertencia.

Quando minha irmã contou-me esta história, talvez não com tantos detalhes, fiquei surpreso, porque ela é homofóbica. Ela vira este caso em algum canal de TV e simpatizou-se com o caso deste rapaz, ou desta moça, mas não foi capaz de enxergar que a única diferença entre a história dela e de um transexual é um mero cromossomo. Se o primeiro parágrafo fosse omitido, não haveria quem pudesse dizer que se tratava de menina confundida por menino ou menino que nunca conseguiu ver-se como um.

E se fosse o contrário, e se ela se identificasse como homem em vez de mulher? E se, mesmo sendo aquele membro um membro falso, ela sentisse que este era parte dela, ou dele, e se ele se sentisse atraído por mulheres, tivesse comportamento de homem, jeito de homem, se gostasse de cerveja, futebol e mulher, assim como qualquer outro homem do mundo? Ele seria então forçado a se sujeitar a uma cirurgia para remover algo que era parte dele, porque tratava-se de um mero apêndice defeituoso, consequência do mero acaso? O gênero dele, ou dela, seria, então, mero caso de sorte ou azar, uma moeda jogada pelo destino, destino este que ri de nós, seres humanos, quando a moeda cai do lado errado? O que aconteceu com o nosso famoso livre-arbítrio, onde está a nossa capacidade de escolha, o nosso amor à diversidade? A princípio, a ciência diz que o gênero de um ser humano é determinado por um par de cromossomos apelidados de X e Y, mas e se não for tão simples assim? E se estes dois cromossomos não forem o suficiente para determinar se alguém é homem ou mulher, mas apenas o seu membro e seus hormônios, não a sua identidade? Seremos então para sempre vítimas de uma visão dualista da sociedade, fadados a enxergar como felinos e caninos, em preto e branco, quando nossos olhos são evidentemente capazes de distinguir muito mais cores?

Mulheres, sabe-se bem, às vezes também ejaculam, e a ejaculação feminina é similar à ejaculação masculina, com a diferença dos espermatozoides. Seriam também as mulheres que ejaculam, assim como homossexuais e bissexuais, aberrações da natureza? Seriam então 35 a 50% das mulheres aberrações que devem ser impedidas de reprodução? E quanto aos homens que carregam os genes que levam suas filhas a serem tais aberrações, seriam aberrações também? E os homens que gostam de usar brincos, cremes, hidratantes, que raspam a perna? E as delegadas de polícia, ou aquelas que fazem musculação? E os homens sensíveis ou as mulheres duronas? Monstros? Seríamos afinal de contas todos nós aberrações, apêndices irregulares que brotamos no mundo por acidente? Ou será que o gênero não é uma separação tão dual e clara quanto o mundo quer que seja? Alguém por acaso vê um clara diferença entre cachorros e cachorras, entre gatos e gatas, sem ter que olhar para a periquita? Não será por isso que as mulheres têm de se maquiar, deixar o cabelo crescer, usar brincos, colares e pulseiras? Não será esta a razão que as leva a fazerem questão de transparecerem a sensibilidade e a vaidade femininas? Se não fosse assim, não poderíamos confundi-las com homens? Não seria o gênero uma fina casca que se forma sobre os seres humanos durante a gestação? Será que essa casca não se romperia se não fôssemos tão teimosos em apontar e realçar ao extremo esta pequena diferença? Não será esta teimosia milenar a que os coloridos são uma ameaça a única razão de existência da homofobia?

Jesus costumava dizer: “misericórdia, não sacrifício”. Então, entre forçar uma mulher a viver como homem e deixá-la viver como uma mulher, conforme a vontade dela, eu pergunto: qual é a misericórdia e qual é o sacrifício?

Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes.
Mateus 12, 7

Não condenaríeis os inocentes!

Eu tenho orgulho de ser heterossexual, mas não mais do que tenho orgulho da forma do meu cabelo ou das minhas unhas. Criaremos então o dia do orgulho hétero? E que tal criarmos o dia dos rapazes que, como eu, são crescidos mas não têm a barba completa? Ou das mulheres que têm o rosto levemente quadrado? Dia do orgulho das testas grandes e das pequenas? Dia do orgulho negro, asiático, indiano, indígena, caucasiano e de todas as combinações possíveis e imagináveis de todas as raças existentes no mundo? Ah, eu sou cerca de um oitavo indígena, faço questão de um dia do orgulho dos que são cerca de um oitavo indígenas!

Disseram que o objetivo do dia do orgulho hétero é "conscientizar e estimular a população a resguardar a moral e os bons costumes". Consciência? Que consciência? Moral? Que moral? Bons costumes? Então quando um homem e uma mulher deitam-se juntos numa cama, isso chama-se “bom costume”? Porque eu aprendi vários nomes bem diferentes deste.

Quando vão parar com essa atitude infantil?
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