terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Feliz natal!

Por que temos quatro estações no ano? Esta dúvida assombrou nossos antepassados enquanto eles observavam a ligação entre as estações do ano e o movimento do Sol pelo céu. Em nossa História, curiosos antigos do hemisfério norte observavam a nossa estrela movendo-se do seu ponto mais ao norte vagarosamente em direção ao sul. Os dias, outrora quentes, iam se tornando cada vez mais frios, as folhas amarelavam e despencavam das árvores, os animais iam se recolhendo para suas tocas conforme chegava aquele período do ano em que do céu caíam aqueles cristais brancos e gelados de água.

Eles chegaram à conclusão racional: tudo estava morrendo juntamente com o astro mais importante para a vida na terra.

E então, de repente, no dia 25 de dezembro, o Sol parava de mover-se ao sul. Era o solstício de inverno (hoje em dia, devido a uma alteração no calendário, o solstício ocorre no dia 22). A partir deste dia, o Sol começava novamente a sua ascensão. A morte não o derrotara, a vida não se fora, a esperança renascia.

Era costume deles darem significado aos movimentos dos astro como se o céu fosse o papel sobre o qual os deuses contavam as suas histórias. Astrologia. E assim, o dia 25 de dezembro tornou-se uma data especial. Ao redor do mundo, eram-lhe dados vários significados diferentes. O mais intrigante deles é o nascimento de uma divindade no Império Romano.

Sol Invictus (Sol invencível), o deus Sol, aquele que não pode ser conquistado pela morte.

A celebração Dies Natalis Solis Invicti, ou nascimento de Sol Invictus, foi instituída oficialmente em 274 d.C. e permaneceu apenas até 387 d.C. por uma razão simples: a cristianização do Império Romano. Outra divindade também celebrada nesta data era o deus Saturno, o deus da agricultura, na festa denominada Saturnália, em que os romanos tinham o hábito de trocar presentes. Outro costume comum em várias culturas era o de comer carne, pois esta era a época do abate.

E quem é que não gosta de comer um peru no natal? (Podem fazer piada, mas que é verdade, é).

Apenas para constar: apesar dos boatos, o nascimento do deus Sol egípcio, Horus, não era celebrado nesta data, mas entre outubro e novembro. Há muitos boatos sobre muitas divindades antigas cujo nascimento era celebrado nesta data, mas suspeito que a grande maioria seja fabricação. O nascimento a partir de uma virgem também é erroneamente atribuído a muitas divindades. A associação mais engraçada é que Mithra, divindade do Zoroastrianismo, que foi uma grande religião antiga no mundo iraniano, teria nascido em 25 de dezembro de uma virgem em uma caverna, quando, na verdade, Mithra nasceu a partir da rocha (que dificilmente pode ser classificada como virgem) deixando para trás uma caverna. Bem, ao menos a data de comemoração de aniversário parece ter alguma base.

A origem destes boatos é provavelmente a primeira parte do filme Zeitgeist.

De qualquer maneira, é fato que havia muitas celebrações nas semanas que precedem e seguem o solstício de inverno por vários povos, celebrando várias divindades diferentes. É claro que Roma, ao dominar outros povos, teria um grande trabalho para tirar deles seus costumes, suas tradições. O cristianismo foi provavelmente a maior arma na tentativa de unificar a crença - e, portanto, facilitar o controle.

A escolha de Jesus como sendo o novo deus Sol parecia bastante natural do ponto de vista político. Desta forma, o Império não teria que acabar com costumes e tradições, bastava mudar o nome das divindades cultuadas, estratégia que provou ser um sucesso.

E Jesus ganhou um aniversário.


É por isso que, hoje em dia, a celebração do natal está cercada de simbologia e tradição cujos significados se perderam no tempo com as crenças pagãs que os criaram. A tradição varia de país para país, dependendo dos rituais pagãos que havia nestes antes de sua cristianização e da influência dos rituais de outros países.

O vídeo acima credita a origem do Papai Noel à divindade Bes, do antigo Egito. Acho difícil sustentar tal alegação. Entretanto, é fácil perceber que o Papai Noel, de acordo com sua lenda, tem as características de uma divindade: ele pode demais, sabe demais e está em vários lugares ao mesmo tempo na noite de natal. O velho barbudo, na verdade, trás uma mistura bastante curiosa de características de duas figuras.

Nicolau de Mira, também conhecido como São Nicolau, viveu de 270 a 343 na atual Turquia. Sua mania de entregar presentes às crianças era bastante conhecida, em especial a de deixar moedas em botas. As gravuras deste santo apresentam-no com cabelos e barba brancos e vestes vermelhas, assim como as vestes de qualquer outro bispo da sua época (não, caro leitor, a roupa do Papai Noel não é invenção da Coca-Cola). Entretanto, o dia de sua celebração era 6 de dezembro. Neste dia as crianças eram presenteadas em sua memória. Além disso, imagino que ele não tinha a capacidade de sair voando por aí no dia de natal.

Odin, por outro lado, um deus de bastante importância entre povos germânicos antigos, possuía um cavalo de oito patas chamado Sleipnir, que era capaz de pular grandes distâncias. Durante o festival germânico de solstício de inverno que recebia o nome de Yule, Odin era retratado como conduzindo uma grande festa de caça selvagem pelo céu. As crianças tinham o costume de deixar botas com cenoura, açúcar ou palha ao redor das chaminés para que o cavalo voador de Odin pudesse comer. Como recompensa, Odin deixava presentes ou doces às crianças. Este costume existe ainda hoje nos povos germânicos, enquanto outros povos penduram meias em vez de botas.

Associar divindades de povos pagãos a santos católicos era uma prática comum dos missionários na tentativa de cristianizar estes povos. A Igreja Católica tentou por um tempo acabar com os rituais de origem pagã, como a entrega de presentes, mas não obteve sucesso. É assim que nasce o Papai Noel que nós conhecemos hoje em dia.

Dizem que Natal é uma festa cristã. Alguns chegam a dizer que o Papai Noel deveria ser abolido do natal, pois "não está na bíblia". Pergunto-me se estes também abominam a árvore de natal, que pode estar relacionada à adoração de árvores na antiguidade, enquanto outras vezes elas eram enfeitadas em homenagem aos deuses, como Thor. Será que eles também entregam presentes à maneira de Saturnália? Será que eles também cantam músicas natalinas, à maneira que era feito durante o Yule, num conjunto de rituais eslavos denominado Koleda? E quanto às velas, guirlandas e enfeites de todo o tipo? Como os judeus se atrevem a comemorar o Hanukkah no mesmo dia? E os hindus, que comemoram o Pancha Ganapati entre os dias 21 e 25 de dezembro, como se atrevem? Aliás, se eles têm tanto medo assim dos deuses pagãos e o Natal é uma festa pagã...

Oras, por que raios comemorar o Natal então?

Esta é uma boa pergunta... Por que comemorar o Natal?

Oras, Natal é uma festa que transcendeu eras, culturas e religiões. Diferentes povos sempre procuraram e encontraram diversas razões pela qual comemorar nesta data marcada pelo nosso querido Sol. Oras, talvez não precisemos procurar, talvez não precisemos de razão nenhuma para celebrar.

Não precisamos de um motivo, a festa já é motivo o bastante!

Não é lindo ver as cidades todas enfeitadas, cheias de luz, de velhos barbudos andando pelas ruas, badalando os sinos, as crianças ganhando balas e pedindo presentes de natal? Não é comovente ver crianças mandando cartas endereçadas ao Polo Norte, ao que outros, por compaixão, respondem a este pedido desesperado de ajuda? Não chega a ser quase divino que as pessoas decidem ter mais compaixão só porque aquele dia está marcado no calendário?

Oras, mas é claro que sim, caro leitor! É 25 de dezembro, chegou agora aquele dia mágico, vivo, iluminado. Os deuses se foram, mas, para a nossa alegria, a festa ficou.

Celebremos a humanidade, a esperança de um mundo melhor, o verão... Festejemos a nossa curiosa mania de encontrar uma desculpa esfarrapada para sermos felizes!

Desejo a todos os queridos leitores deste blog um feliz Natal, Hannukah, Pancha Ganapati, Saturnália, Yule, Solstício de Verão... Enfim, tenham um feliz 25 de dezembro!

Um comentário:

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