sábado, 22 de junho de 2013

Proteste, mas SEM FASCISMO!

As manifestações do último dia 20 atravessaram as fronteiras, não apenas a do Brasil, mas também a da História: os números superaram o Fora Collor. Estudantes e trabalhadores reuniram-se nas ruas do país para dizer: "Basta! Não aceitamos nem mais um aumento! Queremos redução da tarifa e passe-livre já, Brasil!" Em solidariedade, emocionados, estrangeiros se uniram à nossa voz, ao nosso grito. Não há dúvida alguma que a brasileira estava com tantas insatisfações, tantas revoltas contra o sistema acumuladas que não teve polícia nem mídia para segurar.

O povo, naturalmente, culpa o governo pelo descaso. Nada mais justo, pois foi o governo que privatizou o transporte público e o colocou a serviço do lucro de alguns. Tal como ocorreu com a privatização da telefonia e vários outros serviços privatizados, os preços decolaram. Haddad, por exemplo, prometeu em campanha que o aumento não seria maior que a inflação, mas ignorou o fato que o valor atual já está bem acima inflação, e muito acima do que muitos podem pagar. Uma grande contradição: espera-se que a população de baixa renda ande de ônibus. Mas como isso é possível se eles nem sequer conseguem pagar a tarifa para poder trabalhar? E onde fica o nosso direito de ir e vir?

No papel.

O governo não valoriza o trabalhador, mas os patrões. Obviamente, são os patrões que bancam as campanhas salariais dos partidos que governam o Brasil: PSDB, PT, PMDB, PSB, PSD, DEM, PSC... A lista é longa.

E por falar em partidos...

Antipartidarismo

Tem raiva voando pra todo lado por causa da presença de alguns partidos neles, como PSTU, PSOL, PCB, PT... Principalmente o PSTU, que parece ser o partido mais persistente em mostrar para o povo que está nas manifestações. Partidos que sempre estiveram no movimento, que têm a tradição de décadas de levar suas bandeiras. Até mesmo vários partidos menores, a maioria dos quais não se denominam partidos.

Desta vez, entretanto, o povo, inexperiente com os protestos, estranhou. Mais do que isso: escandalizou-se, enraiveceu-se. E partiu pra violência, querem derrubar as bandeiras a qualquer custo. Militantes foram agredidos. E diziam: "Os partidos nos dividem! Queremos o povo unido!" Exigiam a expulsão dos militantes das manifestações.

Hum... A tentativa de eliminar partidos... Isso é fascismo!

Sim, fascismo! Inconscientemente, o povo começa a aderir a uma ideologia fascista. Não é difícil ver de onde essa ideologia vem: da mídia. Sinto dizer, cara leitora, caro leitor, mas a mídia de hoje é a mesma mídia de 1964. Não mudaram nem um pouco. Assim como apoiaram o Golpe Militar de 64 "em defesa da nação, contra a corrupção e contra o comunismo", hoje querem manipular o movimento contra o aumento das tarifas para transformá-lo num protesto contra os partidos e contra a corrupção.

Isso é o que a mídia burguesa, amiga das empresas de transporte público, quer! Eliminar todos os oponentes políticos de cena e, assim, dirigir o movimento, escolhendo suas pautas, suas ideologias e até mesmo quem é ou não aceito dentro dele. É o que ela está fazendo o tempo todo, o velho e manjado algoritmo de dividir para conquistar, já utilizado zilhões de vezes. E, infelizmente, está conseguindo. Mas ainda podemos virar esse jogo. Temos a obrigação de virar esse jogo.

Não abaixaremos as nossas bandeiras!

Corrupção

Não estou dizendo que ser contra a corrupção, por si só, é fascismo. Muito
pelo contrário. Se fosse, seríamos todos fascistas, pois somos todos contra a corrupção. Mas quais medidas serão tomadas? Tornar corrupção num crime hediondo? Então, neste caso, quem serão os políticos a serem condenados? Apenas aqueles que forem julgados. E quais políticos serão julgados?

Todos conhecemos o mensalão do PT, mas o mensalão do PSDB não foi julgado, e pelo visto não será, pois vai caducar... A privataria tucana também não foi trazida à tona (embora o PT também seja perito em privataria).

Quem escolhe quem será julgado? Não, não é o STF. É a mídia. E o povo fica à merce de sua propaganda. Se vamos lutar contra a corrupção, ótimo! Mas temos que ter pautas bem definidas, ou seremos manipulados! Seremos massa de manobra!

Sugiro que nós lutemos, acima de tudo, contra a raiz da corrupção: o financiamento privado de campanhas políticas. Sim! São os políticos financiados pelas empresas de transporte público que aceitaram o aumento da passagem requisitado por elas. O financiamento dos partidos deve ser exclusivamente público, com gastos fixos e definidos para cada cargo. Isso, evidentemente, tem que vir acompanhado do fim da imunidade parlamentar, da redução dos salários dos parlamentares, da revogabilidade dos cargos, da participação popular... Enfim, uma reforma política completa.

Sim! Não sou apenas contra a corrupção, quero uma reforma política completa! Qualquer coisa menor do que isso trabalhará contra nós, não a nosso favor.

Nacionalismo


Até agora, nas manifestações, a grande maioria das pessoas demonstra um nacionalismo inofensivo, sem causa, sem objetivo. O que é nacionalismo? Estamos defendendo a pátria? Mas de quem, se as empresas de transporte são, ao menos em parte, nacionais?

O nacionalismo, por si só, não é inerentemente fascista, mas pode ser utilizado neste sentido. Grupos fascistas e neonazistas afirmam estarem "defendendo a pátria contra os partidos". Muitos dizem: "não levem as bandeiras do seu partido, leve a bandeira do Brasil" ou "antes de ser partidário, você é brasileiro".

Não estamos defendendo o país! Já nos mostra os diversos processos revolucionários do mundo todo: Turquia, Grécia, Síria, Palestina, Egito, Chile, Canadá, Portugal... A nossa luta é internacional! Essas manifestações do Brasil foram inspiradas pela grande explosão de manifestações em incontáveis países no mundo todo.

Esta é uma luta contra a exploração da classe trabalhadora e contra as contradições do capitalismo. Oras, de fato, como pode o mundo produzir cada vez mais e os trabalhadores terem cada vez menor poder de compra? As mercadorias não deveriam, por motivos lógicos, ficarem cada vez mais baratas? E por que as cargas horárias aumentam em vez de diminuir?

E no caso do transporte público, isso é ainda mais evidente. Por que uma passagem de ônibus é mais cara do que dividir a gasolina de um carro entre cinco pessoas? Como pode ser se a quantidade de combustível por passageiro no ônibus é menor? Proporcionalmente ao número de passageiros, um ônibus é muito mais barato que um carro, e um trem ou metrô muito mais barato que um ônibus, tanto em custo de produção quanto do combustível...

Acontece que as contradições do capitalismo existem no mundo todo. Por isso, esta é uma luta internacional. É uma luta (muitas vezes inconsciente) da classe trabalhadora contra a exploração capitalista.

É preciso, entretanto, fazer uma ressalva. O nacionalismo tem um lado progressista, quase sempre ignorado pela esquerda. Nacionalismo é a maior arma contra o imperialismo, contra o controle que ele exerce sobre nosso país. Ainda somos um Brasil colônia. O sentimento nacionalista da população não deve ser combatido, mas tem que se virar contra a exploração de empresas estrangeiras: que elas não levem nossos recursos naturais nem explorem o nosso povo. Queremos um Brasil soberano! Não à entrega do nosso petróleo! Que a Petrobrás e as empresas de transporte sejam 100% estatais!

Devemos ser nacionalistas na medida em que isso nos protege contra os ataques imperialistas ao nosso povo, mas ao mesmo tempo internacionalistas na medida em que isso nos torna solidários com a luta dos povos estrangeiros e apoiadores de suas reivindicações - mesmo que isso signifique entregar alguma filial da Petrobrás em um país estrangeiro, por exemplo.

A luta é uma só!

O avanço do conservadorismo e da direita no movimento é bastante forte. Não à toa usam de violência gratuita contra manifestantes de esquerda e também homossexuais. Querem nos dividir! Querem nos expulsar do movimento! Estão do mesmo lado que a polícia: o lado da repressão. São, com ela, culpadas pelo verdadeiro vandalismo: o vandalismo contra pessoas!

Fora a violência fascista das manifestações! Temos que nos unir! Vamos fazer disputas, sim, mas que seja no campo político (política não no sentido usual, mas no sentido amplo: a disputa de ideias). Não vamos disputar quem pode ou não pode ficar nas manifestações, não vamos levar a disputa ao nível físico. As manifestações são espaços públicos. Então que venha quem é do povo, carregue a bandeira que quiser, mas que jogue fora as bandeiras da violência fascista.
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